sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

‘Por que tenho que falar minhas coisas pro padre se eu posso falar direto com Deus?’

Recentemente lendo um texto do cronista, jornalista e poeta Samarone Lima no blog Estuário, onde ele citou a primeira comunhão e a confissão com o padre, me deu vontade de relatar um pouco de minhas experiências com a igreja católica. Adianto, entretanto, que respeito as escolhas religiosas de quem quer que seja. Se a pessoa se sente bem, se o ritual traz paz e harmonia no viver, ok! Mas comigo essa história de catolicismo nunca ressoou muito não.

Nasci numa família católica que ia para igreja todo domingo e, o pior, me obrigava a ir também. Lá ia eu todo domingo pra igrejinha da pracinha de Boa Viagem. Sempre estava lotada! Não via a hora de chegar o momento da comunhão, pois era quando eu sabia que tava perto de terminar a missa. Tentava me entreter e fazer o tempo passar observando detalhadamente as pessoas ao redor e cantando (algumas músicas eu até curtia, pelo menos isso!) Mas a minha recompensa por aguentar aquela ‘ladainha’ era ir depois para feirinha 'hippie' na mesma pracinha e comprar minhas pulseirinhas e coisinhas outras de artesanato. Sempre gostei!

Claro que fui obrigada, aos dez anos, a fazer a primeira comunhão. O que me confortava era saber que, enfim, iria provar a hóstia (que inclusive foi uma decepção, por achar bem sem gosto e grudenta). Mas, antes disso, tive que passar pelas aulas de catequese – que me deixavam mais confusas e com muitos questionamentos (sem repostas convincentes) sobre ‘quem sou eu’, ‘onde estou’. O pior mesmo foi quando me disseram que eu precisava me confessar com o padre. Me lembro bem que, indignada, cheguei para minha mãe e perguntei: ‘Por que tenho que falar minhas coisas pro padre se eu posso falar direto com Deus?’ Não recordo o que mainha respondeu.

Na hora da confissão, eu, nervosíssima, não sabia o que ia dizer. Então relatei que às vezes falava palavrões e que brigava com minha irmã. O padre me passou para rezar umas três ave-maria, um padre-nosso e me vi livre e perdoada de meus ‘pecados’.

Dos 12 aos 15 anos voltei a morar em Brasília, cidade onde nasci e que residi anteriormente até os 5 anos. Na época – final dos anos 80 - existia uma boate chamada Zoom que era o maior sucesso. A matiné rolava aos domingos. O problema é que eu só podia ir pra Zoom cantar 'Tempo Perdido', Índios', 'Bichos Escrotos'... se eu fosse pra missa de manhã. Afe! E quando eu reclamava, era chamada de herege!

Aos 15 anos veio a Crisma. Minha maior recordação do fato foi uma viagem que fizemos a Cimbres (Pesqueira/PE) e que na volta, talvez por conta de um toddynho (será?), passei muito mal no ônibus. Foi um dos piores momentos da minha vida. Vomitei na janela do ônibus e vim até Recife me arrepiando e me encolhendo para a caganeira não descer. (Muitos anos depois voltei a Pesqueira, dessa vez para um ritual dos Xukurus, onde senti uma conexão mui forte!)

Não bastasse essas vivências, há algum tempo, já depois dos 30 anos, tomei conhecimento de um fato inusitado que se deu no meu batizado. Eu, a caçula, tinha três meses de idade, num 25 de dezembro de 1973. Decidiram me batizar com o bispo de Caruaru, Dom Augusto, um padre formalíssimo que era amigo da família, conterrâneo do meu pai, de Santa Maria (Tupanaci), vilarejo no Sertão do Pajeú. Na ocasião ele iria inaugurar um novo livro, que devia ser uma bíblia. Pois não é que eu, aos três meses, no exato momento do meu batismo católico, bati com a mão ou com o pé na vela e a vela caiu no tal livro! Painho disse que foi meio tenso. Mainha ainda hoje não gosta de falar da cena.

Hoje, sem ir a igreja alguma, me sinto mais espiritualizada do que nunca. Pratico uns rituais e converso diretamente e livremente com as divindades. Amém!

Nenhum comentário: